Se há tema tabu no mundo do ciclismo e que gere mais discussão hoje em dia em qualquer plataforma digital, rede social ou até mesmo numa mera conversa entre amigos no café, são as bicicletas elétricas. Não há ninguém que possua uma bicicleta elétrica que ande num grupo com ciclistas de bicicletas "normais" e que não seja alvo de um certo bullying "ciclístico". Bocas como "sai daqui batoteiro", "não passes nas poças senão levas um choque" ou até "és um preguiçoso! faz-te homem!", são comentários habituais que um ciclista que tenha uma bicicleta elétrica tem que gramar sempre que quer usufruir do seu meio de transporte. Confesso, eu era um dos que tecia este tipo de comentários apesar de os usar num tom de brincadeira, o que nem sempre é o caso de tantos outros comentários que eu já ouvi, mas fiz-lo porque nunca tinha experimentado uma!
Ora, a BIKEZONE Penafiel soube disso e ofereceu-se para me emprestar uma CANNONDALE Habit Neo 4+ e lhe dizer no final o que tinha achado da experiência. Ao receber a proposta tinha que ter um percurso à altura e nada do que a famosa "Descida" para Abragão para a pôr à prova na dureza deste percurso, quer na descida, já com um elevado grau técnico, quer no retorno a casa com cerca de 20km sempre a subir num total de volta com cerca de 40km e 1300m de subida acumulada.
CANNONDALE Habit Neo 4+
Tratando-se de uma bicicleta de gama média dentro do mundo do "BTT elétrico", esta no entanto vem com tudo o que é necessário para cumprir a sua missão. Sem ter componentes topo consegue reunir um conjunto de argumentos que vão garantir ao seu tripulante sobretudo segurança, conforto e estabilidade em qualquer tipo de terreno, onde os 4 modos disponíveis de auxílio elétrico a tornam na ferramenta perfeita para testar as primeiras emoções do E-MTB.
CANNONDALE Habit Neo 4+
ESPECIFICAÇÕES
Transmissão
Pedaleiro: FSA Bosch E-Bike w/ custom Ai offset, 34T
Cassete: Shimano Deore M6100, 10-51, 12-speed
Desviador: Shimano Deore M6100
Quadro
Frame: 130mm travel, BallisTec Carbon Front Triangle, SmartForm C1 Alloy Swingarm, alloy skid plate, Ai offset drivetrain
O meu objetivo para esta volta era perceber o que é que a bicicleta elétrica e o E-MTB tinha para oferecer a este ciclista cético. E não foi difícil chegar a este objetivo. Só teria que transportar a mesma filosofia que uso na minha pedalada e impor a mesma intensidade que eu dou na minha SCOTT Spark quando vou para aqueles lados. Basicamente "rasguei" durante 40km durante 2 horas e posso-vos dizer que o resultado foi surpreendente. Subidas que considero praticamente impossíveis e eram feitas a 5km/h, porque a condição física nem sempre é a adequada e o peso da idade já faz com que a máquina não puxe tão bem, tornaram-se bastante acessíveis e feitas a mais de 15km/h mas não se tornaram menos interessantes e desafiantes, antes pelo contrário. Senti-me invencível e quando assim é a confiança aumenta. Mas desenganem-se de pensar que, só por terem uma mão nas gostas a ajudar na subida, o skill já não importa. O skill vai ter que estar sempre lá porque as pedras, as raízes, as linhas vão ter que ser sempre bem escolhidas nas nossas passagens só que agora com a pressão acrescida de que, com ajuda, não podem falhar e pôr o pé no chão!
CANNONDALE Habit Neo 4+
Por sua vez as descidas tornaram-se mais seguras e estáveis graças aos seus 24kg de bicicleta montada com dois pneus MAXXIS 2.6 e travões de 4 pistões com discos de 200mm, tornando-a uma máquina para "curtir" descidas sem te cansares nas subidas.
E assim tinha terminado uma das voltas mais cansativas que tenho memória. Por isso desenganem-se de que a bicicleta elétrica não cansa porque isto é uma questão mental que estará sempre associada ao objetivo de cada um. A tua filosofia de pedalada vai-se manter. Cabe-te a ti mantê-la e aproveitar esta nova realidade. Uma coisa é certa, vais fazer mais mas em menos tempo!
Mas nem tudo são coisas boas. Acrescentas uma nova variável e muito importante nas tuas voltas. A questão da autonomia é uma preocupação que vais ter que saber gerir porque não vais querer ficar sem bateria numa bicicleta de 24kg e com pneus 2.6. Te garanto que o sonho passa num instante a pesadelo!
DEVES OU NÃO?
Tendo em conta a realidade que eu me deparo no BTT eu dividiria os interessados neste tipo de bicicletas em três grandes grupos, que seriam:
Praticantes com menos condição física
Se gostas de tirar partido do ambiente que se vive à volta do BTT mas não tens a condição física muitas vezes necessária para acompanhares grupos com um ritmo mais elevado, se a idade já não te permite puxar muito pelo corpo ou a zona onde praticas é bastante acidentada tornando o prazer em sacrifício, a bicicleta elétrica é uma boa solução para não pores de lado e descartares à partida uma coisa que gostas de fazer. Finalmente vais conseguir integrar grupos sem teres receio de os prejudicar.
Praticantes que só gostam de descer
Para descer tens que subir primeiro. Mas subir cansa e não te dá qualquer prazer e preferes gastar toda a energia nas descidas. Esta pode ser solução para esse problema pois o auxílio elétrico poupa-te nas viagens de volta ao início dos percursos descendentes. Em resumo, mais descidas em menos tempo.
Praticantes que gostam de fazer mais
O tempo é algo que é cada vez mais escasso. Falo por mim e pelas questões familiares envolvidas. Se fores alguém mais experiente com uma condição física mais desenvolvida podes fazer o dobro com o mesmo tempo despendido dando-te mais soluções para percursos que até agora seriam descartados por serem mais longos a nível de distância e por sua vez mais consumidores de tempo.
CONCLUSÃO
Não acho que o BTT "elétrico" desvirtue a modalidade, antes pelo contrário, é um complemento à mesma dando a possibilidade de se adaptar à filosofia de treino/prática de cada um. Cada um tem o direito de fazer o que mais gosta mas sem prejudicar os outros e não encontro uma razão para uma bicicleta elétrica um dia me possa prejudicar quando faço o que mais gosto. É tudo um questão de mentalidade para quem usufrui e para quem convive com elas. Curtam a vossa paixão. Isso é o mais importante.
Bruno, "se não tens a condição física muitas vezes necessária para acompanhares grupos com um ritmo mais elevado, se a idade já não te permite puxar muito pelo corpo ou a zona onde praticas é bastante acidentada tornando o prazer em sacrifício" então, provavelmente o BTT não é o mais indicado para o aspirante a practicante de BTT, pois, este tipo de desporto requer treino, a indispensável condição fisica para não tornar uma volta de 20km num martírio, o à vontade no monte, não ter medo de cair, e unhas, o que com o avançar da idade se torna mais dificil. Assim, quer a bicicleta eléctrica, quer a convencional não são, neste caso, a solução indicada.
José, obrigado pelo comentário. Ainda este fim de semana que passou tive um bom exemplo do que tentei passar. No grupo já rodado levámos um recém recrutado para a modalidade que tinha uma e-bike. Acompanhou-nos do início ao fim recuando apenas em algumas partes mais técnicas sem atrasar o grupo. Com outra bicicleta não aguentava metade do percurso. Não é tudo nem nunca será... mas já é um desbloqueador. É tudo uma questão de objetivos.
2 Comentários
Bruno, "se não tens a condição física muitas vezes necessária para acompanhares grupos com um ritmo mais elevado, se a idade já não te permite puxar muito pelo corpo ou a zona onde praticas é bastante acidentada tornando o prazer em sacrifício" então, provavelmente o BTT não é o mais indicado para o aspirante a practicante de BTT, pois, este tipo de desporto requer treino, a indispensável condição fisica para não tornar uma volta de 20km num martírio, o à vontade no monte, não ter medo de cair, e unhas, o que com o avançar da idade se torna mais dificil. Assim, quer a bicicleta eléctrica, quer a convencional não são, neste caso, a solução indicada.
ResponderEliminarJosé, obrigado pelo comentário. Ainda este fim de semana que passou tive um bom exemplo do que tentei passar. No grupo já rodado levámos um recém recrutado para a modalidade que tinha uma e-bike. Acompanhou-nos do início ao fim recuando apenas em algumas partes mais técnicas sem atrasar o grupo. Com outra bicicleta não aguentava metade do percurso. Não é tudo nem nunca será... mas já é um desbloqueador. É tudo uma questão de objetivos.
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