Se há uma coisa que eu acho que existe no ciclismo, mais propriamente no BTT, é o conceito de "tracker" e de "pendura". Não é um conceito definido na modalidade mas é uma coisa da minha cabeça. Já me diz a minha mulher que a minha cabeça é um mundo à parte.
A minha cabeça divide então os praticantes da modalidade pelo menos nestes dois grandes grupos relativamente ao seu grau de interesse e tempo despendido na descoberta e redesenho de novos percursos para desfrutar da sua paixão.
Não quero com este texto desvalorizar uns e valorizar outros mas sim salientar que cada um deve curtir a sua paixão da maneira que entende mas que isso não prejudique os outros. Cada um de nós desempenha um papel fundamental neste pequeno, e muitas vezes incompreendido, universo.
TRACKER
O "tracker" é aquele entusiasta que vive o BTT de uma forma mais intensa. A sua pedalada não começa no terreno mas sim em casa quando junta todos os seus mapas em cima da mesa e começa a imaginar que "o melhor trilho passa por aqui" e "se eu fosse por ali para chegar acolá?". Obviamente que o cenário que descrevo é um cenário que tem pelo menos 20 anos. Hoje em dia, na era da informação e tecnologia, essas ferramentas são online e estão disponíveis e acessíveis a todos possibilitando que qualquer um de nós, independentemente do nosso poder financeiro, se torne num verdadeiro "tracker". Isto porque os mapas já não são em papel e estão introduzidos em dispositivos GPS cada vez mais baratos, precisos e que já não te indicam apenas qual a tua posição atual no globo. Mas com o tempo estes dispositivos começam a ser desnecessários para o "tracker", sobretudo na zona onde reside. Com a experiência armazena os mapas na cabeça e começa a ser chamado pelos amigos de "GPS" humano. Eu conheço uns quantos!
O "tracker" muitas vezes é mal amado pelos seus companheiros de pedal. Não é fácil para o "pendura" ir dar uma volta de bicicleta quando o "tracker" está numa missão de testar novas rotas. Ninguém gosta de subir um subida impossível, ter que inverter a marcha porque um caminho está tapado ou ter que parar para analisar uma ou outra rota alternativa. É chato mas é um mal necessário!
A recompensa do "tracker" é ver o seu trilho partilhado e reconhecido por todos os outros praticantes como sendo "o trilho do paraíso" no paraíso do BTT. Para cumprir essa missão pode mesmo arregaçar as mangas e perder tardes e manhãs inteiras de sachola na mão, e até prescindir de uma boa volta de bicicleta domingueira, para abrir um ou outro caminho com as suas próprias mãos.
Só para quem tem o bichinho de "tracker" metido dentro do seu metabolismo é que recomendo a aquisição de um GPS que permita a incorporação de mapas cartográficos. Modelos tais como o GARMIN Edge 530, 830, 1030 ou equivalentes permitem que no terreno tenhas acesso a rotas alternativas para que possas improvisar alterações in loco, caso contrário vais-te sentir limitado e vais perder tempo porque não estás a usar as ferramentas corretas.
GARMIN Edge 530
PENDURA
Por sua vez, o "pendura" tira partido dos percursos criados e faz brilhar o "tracker". O "pendura" não quer saber de imaginar novos trajetos. Ele quer fazer um "trilho do paraíso" e para cumprir a sua missão consulta a base de dados de partilha de todos os "trackers", o WIKILOC, e ali escolhe o trilho ou percurso que mais se adequa àquilo que pretende fazer para cumprir a sua missão que é divertir-se. Ele só quer curtir o track do "tracker" e descarrega o trajeto para o seu GPS que não necessita obrigatoriamente de permitir a inclusão de mapas cartográficos, apenas precisa que esse dispositivo tenha uma navegação suficiente para que não se perca no meio do percurso. Ele só precisa saber onde começa e termina o percurso e quanto é que isso lhe vai sair do corpo. Para isso basta levar no seu cockpit um simples, pequeno mas eficaz GARMIN Edge 130. Como eu!
GARMIN Edge 130
Confesso. Eu sou o verdadeiro "pendura". Não quer dizer que não pense num trajeto e não o altere para numa próxima o tornar melhor e mais completo, mas o meu principal interesse não é esse. O meu principal interesse é ser "vlogger". E o "vlogger" é outro grupo que eu percebo que começa a querer surgir. O "vlogger" tem como principal objetivo difundir toda esta essência que está por trás desta modalidade através de vídeo e influenciar os que não praticam a abraçar a mesma paixão. Porque todas as paixões têm que ser descobertas e eu descobri a minha!
Deixo aqui um agradecimento especial a todos os "trackers" pela dedicação incansável e permitirem que todos os "penduras" possam usufruir dos melhores trilhos em cada região. Isto é o BTT!
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